Até passarinho passa.



Eu possuía, já naquele tempo,
alguma pequena tristeza
trazida pela chuva fina,
pelo absurdo do presente,

pelo convite que a madrugada trazia para viver mais um dia.

A beleza me sufocava.
Essa tristeza não permitia minha vida ser mais completa.
Faltava sempre alguma coisa sem resposta,
alguma interrogação sem desconfiar da pergunta.
Era um incomodo capaz de tornar adoecida nem aqueciam meus pesares.
Apenas esfriavam meu coração.
Mas eu não encontrava sinal de tristeza na existência dos passarinhos.
Um sempre contentamento brilhava entre suas penas.
Todo o universo lhes parecia ser construído apenas de deslumbramentos.
Nunca me indaguei, no silêncio do alpendre, se passarinho pensava.
Meu espanto e minha inveja eram pelos seus voos.
Voar não me parecia tarefa simples.
Primeiro era preciso o vazio, o nada, o aberto, o sem fronteiras.
Isso interrompia minha esperança. Eu vivia sempre rodeada
de impossibilidades, vigiado por paredes, muros e grades.
Minhas asas só existiam para sonhar.

- Bartolomeu Campos de Queirós - Até passarinho Passa.

Não conheço, além do imenso tempo,
Nada que tenha existido para sempre.
Até o silêncio passa.

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